Mosaíco das adversidades do cotidiano marcam estréia do primeiro roteiro de graphic novel de Daniel Galera

 

Rafael Coutinho (frente) e Daniel Galera (atrás)

Arte e poesia das adversidades do cotidiano compõem o enredo de “Cachalote”, publicado pela Quadrinhos na Cia, do escritor Daniel Galera e do artista Rafael Coutinho, que será lançada na Tenda de Autógrafos na I Feira do Livro de Pernambuco, no dia 15, às 15h15. Em suas 300 páginas, a dupla dá vida a seis curiosos e distintos personagens em três capítulos, que estão longe do convencionas das graphic novels brasileiras (histórias em quadrinhos diferenciadas para adultos).

Ele desenvolve histórias paralelas, de argumentos ao mesmo tempo realistas e fantásticos, dramáticos e cômicos. A narrativa envolve o escultor entediado Hermes, convidado para protagonizar um filme, em que o roteiro parece inspirado em sua vida privada; o jovem vendedor de uma loja de ferragens Vitório, que se apaixona por uma linda garota adepta a seu interesse sexual de dominação com cordas (o kinbaku); o astro decadente do cinema chinês Xu Dong Sheng, suspeito de assassinato do seu amigo e companheiro de cena (Jia Cheung), no lançamento do seu filme no Brasil; o playboy mimado e arrogante, Ricardo Aurélio – ou Rique (para os íntimos), perdido na Europa ao ser expulso de casa; um divorciado e deprimido escritor que mantém vínculo afetivo com a ex-esposa e mãe de sua filha; e uma velha senhora grávida, solitária e anuviada com encontros com uma baleia cachalote na piscina de sua casa.

Apesar do mosaico formado pela construção dos personagens atípicos, Daniel Galera amarra as tramas numa singular narrativa gráfica, através de temas e subtextos recorrentes que interligam os personagens por meio de acontecimentos drásticos ou misteriosos, conciliação da vida com a arte e a tentativa de preservar o afeto e o amor em relacionamentos ameaçados por circunstâncias adversas.

Densa e pretensiosa, “Cachalote” apresenta cada uma de suas personagens com minúcias que inferem ao leitor os acontecimentos drásticos ou misteriosos que transformam suas vidas através de suas imagens, que mostram a decadência que cada um passa e o próximo passo para dar rumo ao que perderam. Dentro do universo dos quadrinhos brasileiros, este trabalho tem um estilo incomparável com uma narrativa literária bem construída e costurada à arte do paulista Rafael Coutinho, filho do cartunista Laerte, formada em Artes pela Unesp e que trabalhou com diversas áreas da animação, pintura e ilustração.

Resultado de um trabalho de quase dois anos e meio de produção, “Cachalote” apresenta alguns quadros com belíssimos resultados de sofisticada narrativa, bem próxima das storyboards dos filmes. As ilustrações falam, caprichadas, pensadas e criadas com cuidado, autônomas dentro de cada história no projeto de Coutinho que dá vida ao texto de Daniel Galera, jovem escritor do gênero, que nasceu em São Paulo, em 1979.

Paulista de nascimento, Galera passou a maior parte da vida em Porto Alegre. Começou a trabalhar muito cedo com o gênero, lançando aos 22 anos, em 2001, no mercado editorial o seu bem sucedido selo Livros do Mal, pelo qual publicou o volume de contos Dentes guardados (2001) e Até o dia em que o cão morreu (2003), que ganhou uma adaptação para o cinema pelas mãos de Beto Brant em 2007. Ele ainda teve diversos textos adaptados para teatro e cinema, além de manter o blog Rancho Carne (www.insanus.org/ranchocarne) e a banda de pós-rock Blanched.